De
camisa polo laranja, um tanto desbotada e com uma velha calça jeans ,
Ocano bate um longo papo com a gente, sem no entanto utilizar
cumprimentos com as mãos, pelo seu receio de ser contaminado por algum
vírus. Diz que é descendente do regime de Fidel (Raul) Castro, do qual
teria fugido na década de 60.
O ermitão cubano Antônio Enrique Ocano Silveira tem cerca de 70 anos e vive em uma pequena barraca improvisada à beira de um lago, na margem direita da BR 364 sentido Acre, um pouco antes da substação da Eletronorte em Abunã e do paradouro Castelinho.
Os caminhoneiros, alguns seus velhos conhecidos que percorrem aquele trecho param para dar frutas que ele recusa quando já está alimentado, alegando que não pode estocar nada para não atrair ratos e cobras. Mas quer ver o velho ermitão alterado é falar sobre a política americana, informado que ele é do que se passa no mundo através de um rádio ondas-curtas movido à pilha.
Que estações será que ele escuta : Rádio França Internacional ? Rádio Vaticano ? Rádio Havana ? Rádio Nacional da Venezuela ?
Diz que já foi operador de rádio da Marinha Mercante Cubana e sem dar muitos detalhes conta que fugiu para a Espanha, e depois Venezuela. Chegou ao Brasil em 1994 e tentou emprego como operador de comunicação em navios no porto de Santos. Como não conseguiu voltou para a Venezuela, onde presenciou a tomada de poder por Hugo Chavez. Depois retornou ao Brasil,via Manaus e caminhou até Porto Velho pela BR 319 (cerca de 800 km).
Outro dia vi um documentário sobre Ocano na TV paga, mas já estava na metade e não guardei o nome do filme. Uma reportagem entrevistava um irmão seu que mora na Espanha. O irmão , ao ser confrontado com as imagens de Antônio, disse que não o via há muitas décadas e que por isso não podia ter certeza se era ele realmente.
A produção voltou ao local da morada do ermitão e contou que seu irmão lembrava de uma velha tatuagem no seu braço esquerdo. Antônio Ocano imediatamente puxou a manga da camisa e perguntou : é esta ?
Como já sei da sua aversão à alimentos doados, quando vou à Guayara-Merin, Bolívia procuro sempre comprar o jornal do dia de Sta Cruz de La Sierra , “El Deber“ que ele aceita com um insuspeito sorriso de satisfação. Tenho certeza que ele vai ler o jornal em castelhano, sentado embaixo de um esfarrapado guarda-sol da VW, completamente desbotado pelo sol causticante da região.
Meu amigo JLZ Barcelos é outro que sempre que passa por ali leva biscoitos, maças, bananas para o solitário Ocano.
“Uma vez comprei uns pastéis feitos na hora no Castelinho, mas ele recusou pois já tinha almoçado. E me pediu que levasse para as crianças pobres de Mutum-Paraná” – confirma Barcelos.
Que Antônio Ocano, que diz acreditar em Deus e feliz com o pouco que tem , tenha uma vida longa e boa em sua humilde barraca às margens da BR 364, em Rondônia.
Por Beto Bertagna.
O ermitão cubano Antônio Enrique Ocano Silveira tem cerca de 70 anos e vive em uma pequena barraca improvisada à beira de um lago, na margem direita da BR 364 sentido Acre, um pouco antes da substação da Eletronorte em Abunã e do paradouro Castelinho.
Os caminhoneiros, alguns seus velhos conhecidos que percorrem aquele trecho param para dar frutas que ele recusa quando já está alimentado, alegando que não pode estocar nada para não atrair ratos e cobras. Mas quer ver o velho ermitão alterado é falar sobre a política americana, informado que ele é do que se passa no mundo através de um rádio ondas-curtas movido à pilha.
Que estações será que ele escuta : Rádio França Internacional ? Rádio Vaticano ? Rádio Havana ? Rádio Nacional da Venezuela ?
Diz que já foi operador de rádio da Marinha Mercante Cubana e sem dar muitos detalhes conta que fugiu para a Espanha, e depois Venezuela. Chegou ao Brasil em 1994 e tentou emprego como operador de comunicação em navios no porto de Santos. Como não conseguiu voltou para a Venezuela, onde presenciou a tomada de poder por Hugo Chavez. Depois retornou ao Brasil,via Manaus e caminhou até Porto Velho pela BR 319 (cerca de 800 km).
Outro dia vi um documentário sobre Ocano na TV paga, mas já estava na metade e não guardei o nome do filme. Uma reportagem entrevistava um irmão seu que mora na Espanha. O irmão , ao ser confrontado com as imagens de Antônio, disse que não o via há muitas décadas e que por isso não podia ter certeza se era ele realmente.
A produção voltou ao local da morada do ermitão e contou que seu irmão lembrava de uma velha tatuagem no seu braço esquerdo. Antônio Ocano imediatamente puxou a manga da camisa e perguntou : é esta ?
Como já sei da sua aversão à alimentos doados, quando vou à Guayara-Merin, Bolívia procuro sempre comprar o jornal do dia de Sta Cruz de La Sierra , “El Deber“ que ele aceita com um insuspeito sorriso de satisfação. Tenho certeza que ele vai ler o jornal em castelhano, sentado embaixo de um esfarrapado guarda-sol da VW, completamente desbotado pelo sol causticante da região.
Meu amigo JLZ Barcelos é outro que sempre que passa por ali leva biscoitos, maças, bananas para o solitário Ocano.
“Uma vez comprei uns pastéis feitos na hora no Castelinho, mas ele recusou pois já tinha almoçado. E me pediu que levasse para as crianças pobres de Mutum-Paraná” – confirma Barcelos.
Que Antônio Ocano, que diz acreditar em Deus e feliz com o pouco que tem , tenha uma vida longa e boa em sua humilde barraca às margens da BR 364, em Rondônia.
Por Beto Bertagna.