Há em andamento uma guerra quase silenciosa que atinge Guajará-Mirim, ceifando vidas e cobrando alto preço dos cidadãos que eventualmente tornam-se suas vítimas. Trata-se da guerra de trânsito, cujas batalhas de maior relevância até são expostas pela mídia local, mas sem que a maior parte da população tenha a real consciência do seu alcance e de suas maléficas conseqüências.
Os números das baixas sofridas nessa guerra são macabros e funestos. Segundo os registros do DETRAN/RO e 1ª CIA de Trânsito/6º BPM/GM, somando apenas os anos de 2009, 2010 e o período compreendido entre 1º de janeiro e 31 de agosto de 2011, tivemos 801 acidentes de trânsito, com 20 vítimas fatais e 1066 vítimas com lesões das mais diversas intensidades, indo de escoriações e fraturas até amputação de membros. Segundo essas estatísticas, atualmente ocorre mais de um acidente de trânsito por dia em nosso município, número inaceitável sob qualquer ponto de vista. E o pior: o índice de acidentes está crescendo significativamente ano a ano.
As causas desses acidentes quase que invariavelmente estão relacionadas com a imprudência dos condutores nos cruzamentos e ultrapassagens, com o excesso de velocidade e também por embriaguez alcoólica dos condutores. Para uma cidade como a nossa, carente de tantas coisas, esses acidentes geram prejuízos e malefícios de toda a sorte, pois além de prejudicarem diretamente os cidadãos envolvidos – quanto à sua integridade física e em relação aos danos materiais sofridos- também onera diretamente outros serviços públicos, já que, para cada ocorrência, de imediato são mobilizadas diversas viaturas e policiais militares, socorristas e peritos criminais; no atendimento dos sinistrados pelo serviço de saúde, tem-se a sua sobrecarga e aumento de despesas com medicamentos; na falta de atendimento adequado, ocorre o transporte de lesionados para a capital e outras cidades; e na ausência do acidentado ao trabalho, são geradas despesas de previdência social. Há que se computar também como despesa pública a mobilização da esfera judicial (polícia civil e tribunais) referente à apuração de responsabilidades. Assim, um único acidente consome um significativo montante de recursos financeiros e humanos das esferas municipal, estadual e federal, que multiplicado pelo número de ocorrências atendidas em um ano, toma uma proporção ciclópica.
Muito há o que se fazer para tornar nossa cidade mais segura nesse aspecto, e cabe ao Poder Público Municipal a iniciativa por ações que efetivamente venham a coibir o crescimento exponencial do número de acidentes de trânsito, pois ao Município é repassada grande parte do que é arrecadado a título de Imposto Sobre Propriedade de Veículos Automotores – IPVA, cobrado pelo Estado de quem possui desde a motocicleta até o caminhão, sendo que na atualidade pouco ou nada desses recursos se converte em ações concretas de melhorias de trânsito para os pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas.
Uma das prioridades que o Executivo Municipal tem que eleger é a instalação de sinalização vertical em todos os cruzamentos do município, visando neles disciplinar a preferência de passagem. Grande parte dos acidentes que hoje temos se dá por colisão transversal, que se devem tanto à falta de sinalização quanto à imprudência de condutores.
É de igual importância a instalação de placas de regulamentação de velocidade máxima nas vias, sendo que em Guajará-Mirim a velocidade máxima permitida, de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo Código de Trânsito Brasileiro, é de 40 km/h em todas as avenidas, limite esse que é diariamente desrespeitado por muitos. Cabe lembrar que um veículo qualquer transitando em uma via asfaltada e seca a 40 km/h consegue parar em frenagem com travamento de rodas em menos de 8 (oito) metros, enquanto para uma velocidade apenas 50 % superior, de 60 km/h, a distância necessária para imobilizar um veículo é de 17,8 (dezessete metros e oitenta centímetros), isto é, mais do que o dobro do necessário para a parada de quem trafega a 40 km/h. Na iminência de um acidente, essa diferença pode significar a diferença entre apenas um susto e uma grave colisão.
Temos que ter consciência também que a característica de trânsito do nosso município, com grande número de ciclistas e motociclistas, não permite uma velocidade maior do que 40 km/h. Em nossa cidade coirmã, Guayaramerín, o número de acidentes com vítimas é baixíssimo, o que se deve principalmente à cultura de trânsito ali vigente, com motociclistas e motoristas trafegando disciplinadamente e de forma espontânea – lá não há sinalização regulamentadora – a 30 km/h, como se pode ver a qualquer dia. Considerando que na Bolívia não é exigido o uso de capacete aos motociclistas e o enorme número de motocicletas transitando, é impressionante o reflexo positivo para a segurança de trânsito dos condutores trafegando em baixa velocidade.
Outras ações visando a segurança de trânsito são de necessidade mais premente, com destaque aos seguintes pontos:
- Construção de calçadas para os pedestres, que com elas contam em apenas algumas vias públicas do nosso município;
- Pintura de sinalização horizontal nas vias pavimentadas, principalmente de faixas de travessia de pedestres;
- Implementação de ciclovias, haja vista se esse o meio primordial de mobilidade do cidadão guajaramirense típico;
- Instalação de lombadas eletrônicas nas principais vias da cidade, visando coibir o notável desrespeito ao limite de velocidade de nossas vias (que, lembramos mais uma vez, é de 40 km/h em todas as avenidas);
- Promoção de campanhas de educação de trânsito massivas e contínuas, inclusive visando os ciclistas, com outdoors e na mídia em geral, com foco na direção defensiva, e também dentro das escolas do município, visando dar noções de regras de trânsito aos alunos das redes de ensino.
Há, portanto, a necessidade imperativa de que sejam providenciadas de imediato as ações necessárias para minimizar o número de acidentes de trânsito em nosso Município – o que, ao final, visa que cada um de nós, cidadãos de Guajará-Mirim, não sejamos a próxima vítima a integrar a triste e crescente estatística de acidentes de trânsito que assombra nossa cidade.
FONTE: O MAMORÉ
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